terça-feira, 18 de janeiro de 2011

My Travel Writing Attempt

One day, not that far away, I tried to be a travel writer. In the adequate workshop I was enrolled, stuffed with these great people with whom I shared this event, we were proposed to do our best in writing about a common and fomented experience in Lisbon during one of the days. The common part just reflects the fact that a bunch of creatures all at the same time were consuming Lisbon piece by piece in a street near you. This collection of portions of the city allowed a scathing competition in eloquence, pushed by the appetizing prize of being edited in a travels magazine. To my fellow Portuguese, only because I wrote it in my mother language… ok, and also for those who understand Portuguese, I present my failed attempt…


 

Tasca 28


 

Domingo, quatro da tarde, chove a espaços na praça D. João Bosco, refugio-me parcialmente naquela que é a primeira (ou última, entenda-se) paragem do velho eléctrico de Lisboa, o 28, e aguardo-o. Ele surge, pode dizer-se "barulhento", mas naquela sonoridade agradável de rolar sobre carris que consegue entender-se como quase aconchegante. Chega perto. Uma velhinha apressada a passos curtos quer ser a primeira. Quer o lugar sentado que ainda agora se tornara livre pela saída de uma velhinha de semelhante idade. Consegue. Agora sou em quem entra no mundo do eléctrico 28. Cá dentro, do mundo, os cabelos brancos pertencem a quem é local e não mais faz do que preencher o quotidiano; os mapas são frequentes na mão ou mal dobrados e enfiados numa qualquer bolsa; a música no ar é a diversidade linguística, a campainha e o "barulho"; as conversas cruzadas, os flashes e as fotografias compõem um quadro aprimorado pelos adolescentes que correm atrás e com um saltinho se servem de boleia. Nisto, um indivíduo careca, não local, tira uma foto onde decerto fiquei enquadrado, descontraidamente de cabeça apoiada nos braços enlevados e sustentados nos apoios verticais suspensos disponíveis. Ele, o indivíduo, fala depois com a mulher que o acompanha, dizendo que interpreta expressões faciais… Seria a minha motivo de captura? Adensa-se uma curiosidade que vejo impossível de satisfazer pois ele está de saída no Miradouro de Santa Luzia. Ele, ela, os transportadores de mapas e demais. Há espaço. Há quase quedas no arranque e apercebo-me que nas ruas estreitas percorridas pelos carris lá fora, pessoas encolhem a barriga, encostam-se à parede, acenam com um sorriso nos lábios e cães espreitam à janela. É com esta Graça que saio. A chuva parou.

Depois da azáfama eléctrica, busco a abrangência da cidade no topo de uma das sete colinas, sendo chamado pela Nossa Senhora do Monte, no cimo da Calçada do Monte. Ressalta à vista o espelho do Tejo interrompido ao meio na fotografia pela elevação do Castelo. Imagino lá em baixo a confluência das ruas perdidas de Lisboa para cada uma das pequenas clareiras entre prédios que serão praças. Ao meu lado uma jovem aponta para longe, como quem procura o conforto de um lugar conhecido. Um jovem, de boina, farta barba e roupagem de tonalidades cinzentas interrompidas pelo escape do seu cachecol vermelho, traça seus esquissos desta mesma vista que avisto, mas no seu ângulo. Ele está calmamente concentrado, de pernas soltas, estendidas e sentado no paredão. Talvez um dia tenha honras de ter uma exposição publicitada no 28 tal como a Paula Rego hoje. Desejo-lhe sorte.

Não é com sorte que chego ao meu último destino, apesar de em nada sobressair da restante envolvente geográfica. O número da porta e a rua já estavam encomendados e foi só ter a disposição mental na busca porta a porta. Vejo-me então a chegar à Tasca do Jaime. Apercebo-me agora que é um espaço de Fado à medida que me encosto à ombreira da porta a sentir o cheiro quente a comida. É um espaço estreito mas comprido, de balcão corrido de um lado e mesas do outro. Mesmo ao fundo as mesas prevalecem quando o balcão se acaba, terminando o espaço num pequeno 'L' numa reentrância à direita. As paredes são forradas a azulejos azuis e brancos até à altura dos ombros, daí até ao tecto cobertas de fotografias emolduradas de gente célebre e de outros que nem tanto do lado das mesas; prateleiras de garrafas com um ocasional CD de Fado no intervalo do lado do balcão. As toalhas das mesas com padrão quadriculado de traços grossos também azuis e brancos estão ocupadas e cada restante centímetro de chão vai para o mesmo estado. Aos sentados pede-se que comam enquanto os de pé, querendo, podem ficar-se pelo beber. Para lá do balcão observo uma travessa de pastéis de bacalhau prontos a servir, mas peço apenas ao Jaime uma Ginja de Alcobaça e vejo o meu desejo atendido com prontidão. Quem mo sugeriu foi Hélder Fagulha (foi assim que ele se apresentou, com primeiro e último nome), reformado de 73 anos que todos os dias passa por aqui. De boina verde escura na cabeça, uns olhos azulados, camisa xadrez acinzentada, com um lenço vermelho que brota à vista por entre o aberto do colarinho e casaco de malha, diz-me que de vez em quando também aqui canta pois "alfacinha da Graça tem de saber cantar o Fado". As luzes apagam-se e o silêncio imediatamente instala-se. Uma única voz audível retrata saudade, balanceada pelas cordas da guitarra, mas quando a luz acende de novo volta-se ao convívio familiar que este espaço nos proporciona. Apercebo-me do Hélder já ao fundo que canta de olhos fechados uma desgarrada, com versos ao desafio, e espera por quem lhe responda. Obviamente um novo verso não falta e até o Jaime irrompe por detrás do balcão para dar um ar da sua graça. As pessoas aplaudem, são afáveis, disponíveis, conversadoras e estão aqui para e pelo convívio. A mistura de idades é visível nos rostos, há o contraste entre os lenços "tipo Hélder" e "tipo Árabe", o Português é a língua mais comum, há respeito, come-se, bebe-se e canta-se numa azáfama que poderia ser a do 28, numa hora insuspeita, numa tarde de Domingo.


 

João Prata Antunes

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